quarta-feira, 18 de junho de 2014

Dez - Opinião



Este livro foi uma agradável surpresa. Apesar da forma como o autor estruturou o livro não ser a minha preferida (nem tão pouco a considero funcional ou apelativa), a verdade é que a história em si, o mistério e os segredos da família Branco e dos personagens que a envolvem cativou-me o suficiente para considerar este um bom livro.

Começamos por conhecer Francisco Branco que acaba de falecer com a idade de cem anos. Teve uma vida longa, rodeado da sua adorada família e da sua Quinta no Douro, passando a juventude no Porto e os estudos em Coimbra. 

O livro começa então com a morte de Francisco no ano 2000 e em cada um dos DEZ capítulos ele vai recuando uma década até chegar ao ano de 1910, o ano em que Francisco nasceu e foi deixado numa instituição para crianças. Toda a sua vida ele procurou as suas raízes, procurou saber de onde vinha, quem foram os seus pais. Será preciso morrer para o descobrir?
Quando morre ele tem à sua volta a filha Luísa e o marido desta, Richard, a mulher Joana,  o neto Alexandre e a bisneta Inês.

São as vidas de Francisco, Luísa e Alexandre que vamos vendo recuar no tempo, década após década. Pela vida deles passa Suzana - a mãe de Luísa -  Catarina, o primeiro amor de Francisco e Virgínia, a mãe de Catarina e que impediu o amor dos dois.

Pela vida de Luísa, antes de Richard (que conheceu inicialmente para comprar a Quinta dos Prazeres e acabou por ajudar a reconstruí-la e a ficar na família) passou Inácio, seu primeiro marido e com quem teve Alexandre, um menino muito especial. Este casamento rapidamente desmorona e Luísa deixa-se apanhar pelas garras de Manuel, mesmo sabendo da sua fama, ela está desejosa de amor. Mas este amor acaba em tragédia e o filho Alexandre acaba preso e Manuel acaba por ficar com a casa de Luísa que foi o que sempre lhe interessou. Desta história sórdida que envolve um bordel, vícios e prostitutas, salva-se o amor que nasceu entre Alexandre e Adelaide.

Suzana é uma personagem bastante interessante. Cativa Francisco desde que este pisou a Quinta no Douro pela primeira vez. Ele apaixona-se e está disposto a esperar que ela recupere dum desgosto de amor. Acaba por conseguir a sua atenção e espera que ele acabe os estudos de Direito em Coimbra para poderem casar. Vão viver para o Porto mas Clara, a mãe adoptiva de Francisco, desejava mais para o seu filho e não morre de amores pela nora, pelo que esta, enquanto ele está em Coimbra, vagueia pelas ruas do Porto, primeiro estranhando o rebuliço da cidade, mas depois deixando que ele se entranhe na pele. No dia do casamento tanto Suzana como Francisco têm histórias mal resolvidas e por isso anos mais tarde acabam por divorciar-se. Suzana acaba por passar pelo Brasil e ir de lá com o companheiro para uma Angola revolucionária e temendo pela vida, é ajudada pelo enteado Tomás a regressar a Lisboa. Nas suas horas de demência, anos mais tarde, é de Tomás que ela recordará com mais afinco.

Catarina é também uma personagem cativante, misteriosa e aventureira. Quando a mãe se suicida, ela perde o rumo e acaba institucionalizada. Anos mais tarde quando tenta recuperar a sua vida ao lado de um Francisco que nunca deixou de amar, descobre um segredo com o qual não é capaz viver e despede-se de Francisco com um bilhete. Só no final compreendemos a verdadeira dimensão destes segredos familiares e dos "e se's..." da vida!

É um leque valioso de personagens que se misturam do Porto até à Régua, passando pelos tumultos da revolução do 25 de Abril, andando para trás até à constituição da primeira Republica.
Acompanhamos Francisco e os seus segredos desde que morre até ao mistério do seu nascimento e no final fico com a sensação que deveria ler o livro outra vez, para melhor o compreender, pois há coisas referidas no inicio que na altura não nos dizem muito mas com o recuar dos anos, compreendemos a sua importância.

Posso dizer que este livro foi mais do que estava à espera e, à excepção do Epílogo, seria engraçado tentar ler os capítulos a começar pelo último até ao primeiro, pois era dessa forma que gostava que o livro tivesse sido escrito.

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