quinta-feira, 1 de maio de 2014

A Beleza das Coisas Frágeis - Opinião



Acabei agora de ler este livro. É ambíguo. Agridoce. Complexo e de uma beleza singulares. Apesar de saber que não estava no mood certo (e noutra altura poderia ter apreciado bem mais a sua leitura) e que não é uma leitura fácil, ainda assim, este é um livro que vale a pena ser lido. Para um livro de estreia a autora elevou a fasquia para os próximos livros.
Folá e Kweku. Um casal de estrangeiros nos EUA. Ela deixa de lado os seus sonhos para poderem viver os do marido, médico. Um dia, ele decide ir embora e deixar a mulher e os filhos para trás. Volta para a sua terra, o Gana e deixa-os completamente à deriva.
Kweku morre e a família vai reunir-se no Gana para a despedida. Até lá, a autora vai-nos revelando os segredos familiares, os acontecimentos traumáticos e as alianças que ora unem, ora afastam os quatro irmãos.

Taiwo e Kehinde. Gémeos. Ligados de uma forma especial. Quando o pai vai embora a mãe manda-os para casa de um tio porque não consegue tomar conta dos quatro filhos. Ao fazer isso está a definir a forma como eles irão encarar a vida nos anos seguintes, pelo que lhes aconteceu na Nigéria. Esta história dentro da história comoveu-me. Taiwo tem aquela maneira de ser, fria, que quer mostrar que não precisa de ninguém, muito fechada em si mesma. Aqui percebemos porquê. Kehinde também mudou irremediavelmente na Nigéria. Mais tarde, nos EUA tenta acabar com a própria vida e depois vive escondido de tudo e de todos. Até ser descoberto e acontecer o reencontro familiar. O sarar das feridas e descobrir que afinal não era assim tão diferente do pai.

Olu é o que tenta viver sem se envolver. Apaixona-se por Ling, enfrenta o pai dela e vão casar a Las Vegas. Vivem na sua casa de sonho e são felizes. Mas há uma distância que ela não consegue transpor, até ele a levar para o funeral do pai no Gana, como parte da família. Esteve no Gana a visitar o pai, no dia que devia receber o seu diploma na Universidade. Quer respostas mas quando aparece uma mulher na cabana ele levanta-se e vem embora sem olhar para trás. Continua sem respostas.

Sadie é a mais nova. Sempre se sentiu diferente, como parte extra da família, como se por ter surgido mais tarde tivesse perdido todas as memórias da família, pois sente que é delas que a família vive e ela ainda não fazia parte dessas memórias. É um ser frágil, de uma beleza comovente, que chora sem controle, que sofre sozinha e sente um vazio pela ausência do pai. No entanto, todos dizem que é a preferida da mãe. 

Folá ficou sozinha depois de ter sido abandonada pelo marido. Tomou as suas decisões e tem que viver com as consequências. Foi viver para o Gana e sente-se feliz por ter os filhos todos reunidos. Muitos segredos vêm ao de cima, sentimentos contraditórios. esclarecem-se mal entendidos e talvez, talvez, depois da morte de Kweku, ele consiga mesmo ter a sua família no Gana, feliz e unida.

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