sábado, 8 de janeiro de 2011

Do post anterior

Imaginem a seguinte situação:

Vou ao neurologista com dois utentes (um casal). Os dois sofrem de síndrome demencial, sendo que um também tem problemas cardíacos. Nunca aceitaram ir para a instituição, porque não têm noção de que já não podem viver sózinhos (não tomavam medicação, a casa não era cuidada, a alimentação era insuficiente...) e a família mais próxima são uns sobrinhos que vivem afastados. Estão sempre a esquecer o que lhes é dito e só pensam que os sobrinhos os querem roubar.
Saliento que os utentes não têm culpa nenhuma de terem os problemas de saúde que têm e a nossa função é ajudá-los da melhor forma que podemos.
A instituição não é uma residênca fechada, não tem horário de visitas e nem controle de entradas e visitas, pelo que não é apropriada para pessoas que estão sempre a tentar fugir e que causam algum "desconforto" aos restantes utentes.
A ida ao neurologista servia para mostrar os TAC's e análises que ambos fizeram e para o médico especialista me dizer a melhor forma de os ajudar. Foi uma luta para irem à consulta porque já não queriam ir e porque a P. só chorava e dizia que queria morrer.
A médica de clínica geral que vai à instituição ficou de falar com o médico para lhes dizer dos comportamentos habituais dos utentes e contar-lhes algumas situações que eu não posso mencionar na presença deles, como é evidente.
Chegados à consulta, os utentes estavam calmos, referiram que não tinham nada que os apoquentasse e que estava tudo bem. O médico viu as análises e os exames, disse que eles pareciam benzinho e que tinham de beber mais água e tinham o açúcar um pouco alto.
WTF? Era uma consulta de especialidade, não de clínica geral. Era suposto ele ajudar-me. Eles pagaram 70 euros cada um pela consulta para ouvir isto? E agora, o que eu faço?
Senti-me tão frustrada com esta avaliação medíocre que quando cheguei ao trabalho disse ao meu chefe que assim não valia a pena andar a gastar dinheiro, para isso já tinha a médica que lá vai todas as semanas.
E agora o que faço? A demência não tem cura, vai avançando lenta ou rapidamente. Mas há coisas que se podem fazer. Mas como eu os ajudo se muitas vezes se recusam a tomar a medicação? Se lhes explico porque estão ali e passados 10 minutos não se lembram? Se quando saímos da consulta ela estava a falar para mim como se não soubesse quem eu era e a dizer que para a semana ía ao banco e que me pagava o dinheiro da consulta e a agradecer-me por ter ido lá com eles.
Senti-me tão perdida que não consegui impedir as lágrimas que me vieram aos olhos.
Porque a frustração deixa-me assim...perdida!!

2 comentários:

  1. Que situação complicada... Mas eles precisam de ti, da tua paciência e apoio, e tu precisas do apoio dos teus amigos que decerto estarão sp contigo

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  2. Bem que bom :S
    Lá no centro agora também temos uma que variou e chegou mesmo a sair de lá sem darmos conta...
    Espero que não leves a mal estar a perguntar, qual é a tua função lá? :)

    Anna*

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