Tinha uma empregada* exemplar, daquelas que nos deixa a casa num brinco, porque gosta do que faz; que trata da nossa roupa como trata da dela; que nos prepara o jantar porque vamos chegar tarde a casa; que faz o que tem a fazer sem ser preciso pedir ou mandar. Eu tinha uma fada do lar destas, tão rara nos dias de hoje. Mas ela foi-se embora porque estava farta de estar enfiada num trabalho em que não via mais ninguém e estava a dar em doida. E despediu-se, sem contrapartidas, com a crise que vivemos, confesso que fiquei admirada (e também angustiada).
Agora arranjar outra tem sido um verdadeiro pesadelo. A D. Júlia tem ido três vezes por semana e era empregada da 5ásec o que me levou a pensar que pelo menos a roupa ía estar impecável.
A senhora tem o marido doente e como este não trabalha à mais de um ano, precisava desesperadamente de um trabalho. E então demos-lhe uma oportunidade. Mas isso não significa que sou a Santa Casa. Não tenho que aturar pessoas que vão trabalhar e quando perguntamos o que se passa estão meia hora a falar da vida infeliz que têm e choraram babo e ranho, e pedem licença a uma perna para deixar a outra andar, e andam mais devagar que a morte lenta e quando dizemos que se estava doente devia ter ficado em casa e ela vira costas e dá de frosques, e pede para sair um dia mais cedo que depois compensa mas nunca mais se lembra de o fazer e está prestes a aniquilar as minhas orquídeas de tanta água que lhes dá e que hoje resolveu não aparecer e não atende o telefone. Será que não volta?
Alguém me explica isto como se eu tivesse quatro anos?
Crise? Necessidade? Onde? Não entendo estas mentalidades!!
* antes que se interroguem como é que uma pessoa que se queixa da crise e faz cortes orçamentais no orçamento familiar tem empregada, esclareço já que é o meu pai que financia. E eu não digo que não porque não sou burra nenhuma :)
Não é mesmo nada fácil encontrar a fada do lar, perfeita perfeita..!
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